No dia 15 de Março de 2015 fui à manifestação no Eixo Monumental, em Brasília, que pedia o Impeachement da Presidente Dilma. Apesar de ressoar em mim parte da indignação do momento, senti-me estranho em meio a pedidos de intervenção militar, a cartazes condenando o aborto e o homossexualismo, a capas da revista Veja coladas em camisas, a pessoas pisoteando e rasgando uma camisa vermelha, e a outras tantas coisas que me causavam mal-estar. O que vi por lá compartilhei AQUI. Clamava, na época, que aprendêssemos a conviver também com aqueles cidadãos.
Neste último 18 de Março fui às manifestações pela democracia, também no Eixo Monumental.
O que vi naquela marcha vermelha, e também verde e amarela, e branca, e de todas as cores, foi muito além do que o outro lado desta lamentável batalha tenta reduzir.
Vi um caleidoscópio humano difícil de ser descrito sem cair em generalizações, melhor fazê-lo com imagens:
Vi a vontade de uma parte historicamente oprimida de continuar sua luta por representatividade, e que está mais próxima de ser contemplada no atual governo do que nos que o antecederam, e no que ascenderia pelas mãos daqueles que tentam derrubá-lo.
Não vi comunistas odiosos (ainda que houvessem alguns discursos inflamados), nem pobres coitados, tampouco incultos sujeitos às manipulações. Engana-se aquele que se julga superior a outro por ter estudado mais, e argumenta ser por isso melhor capaz de discernir o bem para o país, ou o que considera quem pensa diferente de si um perigo a ser combatido, barrado, aniquilado.
E por mais que os tempos sejam difíceis, que o governo seja torto e seus métodos duvidosos, que muitas de suas posturas, repudiáveis, muitos de seus atos, irresponsáveis, muitas de suas conquistas, mentirosas, muito de sua essência, corrompida… este é, afinal, o governo que venceu as eleições. É o governo nascido de nossa própria carne, criado em nossa própria cultura, regido por nossos próprios valores. É o governo eleito, e como tal, tem quatro anos para exercer seu mandato. E é assim que a democracia funciona. Não é um sistema perfeito, ou como bem lembrou Leandro Karnal, ao citar Churchill em uma de suas palestras, é “o pior dos sistemas, com exceção de todos os outros”.
E o que está em jogo nesses tempos, é justamente ela, a democracia. Pois o impeachement que se articula baseia-se muito menos em fatos criminosos irrefutáveis do que em articulações obscuras de interesses capitalistas, por num judiciário seletivo e um golpe midiático escancarado (ainda que muitos recusam-se a vê-lo). A semente do ódio foi sistematicamente plantada, germinou regada à promessa de um futuro livre de corrupção. O ódio ganhou proporções perigosas, ouví-lo pode parecer recompensador a um primeiro momento, mas caro demais amanhã.
Precisamos voltar alguns passos, revisitar a ideia de nação agora com lições aprendidas. Cobrar mudanças, mas acima de tudo, mudarmos nós mesmos. E essa mudança começa com o diálogo entre duas faces apartadas. Pois é certo que esse conturbado período também é um de enormes aprendizados. Será preciso lembrarmos que somos uma nação, não duas, mas que dentro desta unidade, há a diversidade, há minorias, e elas precisam ser respeitadas. Há, sobretudo, um estado de direito, um bem precioso demais para ser atropelado pela ira ou pelos interesses ocultos e gananciosos.
Não gostamos da imagem que nos representa? Uma nova só poderá nascer de dentro pra fora.
Porque quebrar o espelho, se ele apenas nos reflete?