{"id":12653,"date":"2016-03-21T06:51:13","date_gmt":"2016-03-21T06:51:13","guid":{"rendered":"http:\/\/77.104.162.234\/~schietti\/site\/?p=12653"},"modified":"2016-04-06T01:40:24","modified_gmt":"2016-04-06T01:40:24","slug":"o-outro-lado-do-espelho","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/schiettifotografia.com\/pt-br\/calefacao\/o-outro-lado-do-espelho\/","title":{"rendered":"O outro lado do espelho"},"content":{"rendered":"

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No dia 15 de Mar\u00e7o de 2015 fui \u00e0 manifesta\u00e7\u00e3o no Eixo Monumental, em Bras\u00edlia, que pedia o Impeachement da Presidente Dilma. Apesar de ressoar em mim parte da indigna\u00e7\u00e3o do momento, senti-me estranho em meio a pedidos de interven\u00e7\u00e3o militar, a cartazes condenando o aborto e o homossexualismo, a capas da revista Veja coladas em camisas, a pessoas pisoteando e rasgando uma camisa vermelha, e a outras tantas coisas que me causavam mal-estar. O\u00a0que vi por l\u00e1 compartilhei\u00a0AQUI<\/a><\/strong>. Clamava, na \u00e9poca, que aprend\u00eassemos a conviver tamb\u00e9m com aqueles cidad\u00e3os.<\/p>\n

Neste \u00faltimo 18 de Mar\u00e7o fui \u00e0s manifesta\u00e7\u00f5es pela democracia, tamb\u00e9m no Eixo Monumental.<\/p>\n

O que vi naquela marcha vermelha, e tamb\u00e9m verde e amarela, e branca, e de todas as cores, foi muito al\u00e9m do que o outro lado desta lament\u00e1vel batalha tenta reduzir.<\/p>\n

Vi\u00a0um caleidosc\u00f3pio humano dif\u00edcil de ser descrito sem cair em generaliza\u00e7\u00f5es, melhor faz\u00ea-lo com\u00a0imagens:\"_MG_8283\"\"_MG_8139\"<\/a> \"_MG_8146\"<\/a> \"_MG_8180\"<\/a> \"_MG_8240\"<\/a> \"_MG_8243\"<\/a>\"_MG_8342\"<\/a> \"_MG_8358\"<\/a> \"_MG_8373\"<\/a> \"_MG_8419\"<\/a> \"_MG_8447\"<\/a> \"_MG_8482\"<\/a> \"_MG_8491\"<\/a> \"_MG_8533\"<\/a> \"_MG_8569\"<\/a> \"_MG_8587\"<\/a> \"_MG_8597\"<\/a> \"_MG_8605\"<\/a> \"_MG_8638\"<\/a> \"_MG_8653\"<\/a> \"_MG_8685\"<\/a> \"_MG_8690\"<\/a><\/p>\n

Vi a vontade de uma parte historicamente oprimida de continuar sua luta por representatividade, e que est\u00e1 mais pr\u00f3xima de ser contemplada no atual governo do que nos que o antecederam, e no que ascenderia pelas m\u00e3os daqueles que tentam derrub\u00e1-lo.<\/p>\n

N\u00e3o vi\u00a0comunistas odiosos (ainda que houvessem alguns discursos inflamados), nem pobres coitados, tampouco incultos\u00a0sujeitos \u00e0s manipula\u00e7\u00f5es. Engana-se aquele que se julga superior a outro por ter estudado mais, e argumenta ser por isso melhor capaz de discernir o bem para o pa\u00eds, ou o que considera\u00a0quem pensa diferente de si\u00a0um perigo a ser combatido, barrado, aniquilado.<\/p>\n

E por mais que os tempos sejam dif\u00edceis, que o governo seja torto e seus m\u00e9todos duvidosos, que muitas de suas posturas, repudi\u00e1veis, muitos de seus atos, irrespons\u00e1veis, muitas de suas conquistas, mentirosas, muito de sua ess\u00eancia, corrompida… este \u00e9, afinal, o governo que venceu as elei\u00e7\u00f5es. \u00c9 o governo nascido de nossa pr\u00f3pria carne, criado em nossa pr\u00f3pria cultura, regido por nossos pr\u00f3prios valores. \u00c9 o governo eleito, e como tal, tem quatro anos para exercer seu mandato. E \u00e9 assim que a democracia funciona. N\u00e3o \u00e9 um sistema perfeito, ou como bem lembrou Leandro Karnal, ao citar Churchill em uma de suas palestras, \u00e9 “o pior dos sistemas, com exce\u00e7\u00e3o de todos os outros”.<\/p>\n

E o que est\u00e1 em jogo nesses tempos, \u00e9 justamente ela, a democracia. Pois o impeachement que se articula baseia-se muito menos em fatos criminosos irrefut\u00e1veis do que em\u00a0articula\u00e7\u00f5es obscuras de interesses capitalistas, por num judici\u00e1rio seletivo e um golpe midi\u00e1tico escancarado (ainda que muitos recusam-se a v\u00ea-lo). A semente do \u00f3dio foi sistematicamente plantada, germinou regada \u00e0 promessa de um futuro livre de corrup\u00e7\u00e3o. O \u00f3dio ganhou propor\u00e7\u00f5es perigosas, ouv\u00ed-lo pode parecer recompensador a um primeiro momento, mas caro demais amanh\u00e3.<\/p>\n

Precisamos voltar alguns passos, revisitar a ideia de na\u00e7\u00e3o agora com li\u00e7\u00f5es aprendidas. \u00a0Cobrar mudan\u00e7as, mas acima de tudo, mudarmos n\u00f3s mesmos. E essa mudan\u00e7a come\u00e7a com o di\u00e1logo entre duas faces\u00a0apartadas. Pois \u00e9 certo que esse conturbado per\u00edodo tamb\u00e9m \u00e9 um de enormes aprendizados. Ser\u00e1 preciso lembrarmos que somos uma na\u00e7\u00e3o, n\u00e3o duas, mas que dentro desta unidade, h\u00e1 a diversidade, h\u00e1 minorias, e elas precisam ser respeitadas. H\u00e1, sobretudo, um estado de direito, um bem precioso demais para ser atropelado pela ira ou pelos interesses ocultos e gananciosos.<\/p>\n

N\u00e3o gostamos da imagem que nos representa? Uma nova s\u00f3 poder\u00e1 nascer de dentro pra fora.<\/p>\n

Porque quebrar o espelho, se ele apenas nos reflete?<\/p>\n

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