No início deste ano tive o enorme prazer de participar de um projeto de performance urbana sem precedentes em Brasília, e o qual aguardava momento oportuno para publicar. A convite de dois artistas australianos, com os quais reuní num hotel na ante-véspera da produção fotográfica, decupei locações icônicas da cidade a serem visitadas ao longo de dois dias, especialmente ao nascer e ao pôr-do-sol. Cada local provou-se uma aventura única, já que o traje (ou a falta de um) vestido pelo ator Phillip Adams, assim como sua atitude passiva, mas investigadora, despertavam atenção e, em alguns casos, problemas com a polícia e ameaças de todos tipos. Seguimos adiante, serenos, com a certeza que não havia nada de errado ou agressivamente ofensivo no projeto, mas talvez houvesse com a moral e o senso de empoderamento demonstrado por algumas pessoas. Mas houveram manifestações positivas também, como a mulher que pediu para ser fotografada com o personagem, e aceitou o convite de desfilar com ele para a câmera. Crítica política? Passa longe, os artistas eram australianos, pouco sabiam ou se importavam com o cenário político do Brasil. O ensaio foi realizado em Fevereiro. Crítica social? Talvez, mas não necessariamente… Duas palavras que Matt usava bastante ao conversar comigo sobre o teor do projeto eram “Nômade”e “Alien”. Traduzo abaixo, livremente, o texto de Matthew Bird, idealizador do projeto: “A performance urbana não-solicitada ‘Brasilia’explora as doutrinas arquitetônicas e culturas exóticas do modernismo brasileiro representado pela sua cidade-estado utópica dos anos cinquenta. A investigação de prédios icônicos do arquiteto Oscar Niemeyer e do urbanista Lúcio Costa na capital federal serve de pano de fundo para encontros performáticos arquitetônicos. A figura alienígena inesperada é sobreposta dentro da visão futurista de Brasília enquanto símbolo de seus habitantes trabalhadores. A caracterização do personagem como Mickey Mouse na cabeça, sunga branca tipicamente brasileira, maleta e sapatos pretos de negócios são improvisos fotográficos contra a dureza da arquitetura modernista de Brasília, tornando-se representante dos trabalhadores da cidade, do planejamento, otimismo, construção e progresso dos anos 1960. O exotismo é explorado mais afundo tomando-se como referência os trajes da legendária atriz Carmen Miranda, manifestado através das orelhas de roda. ‘Brasilia’ é um projeto colaborativo transmitido pelas práticas multidisciplinares de um coreógrafo e arquiteto sobre narrativas esotéricas, movimentos humanos não-ortodoxos e formas construídas.” Projeto do arquiteto Matthew Bird (Studiobird) e do artista Phillip Adams (BalletLab) em colaboração com o fotógrafo Vitor Schietti. ___ As fotos resultantes dessa performance já foram publicadas em diversos meios de comunicação australianos e em uma revista de arquitetura. Também já enveloparam trens elétricos em Melbourne. Abaixo vão alguns exemplos: